segunda-feira, 4 de julho de 2011

Trinca de "EMES"

Por Raquel Freitas
Com o perdão do clichê, mas quase impossível não pensar no bom e velho ditado “um é pouco, dois é bom, três é demais” quando o assunto é “Sobre-viventes”, uma das quatro atrações da segunda noite do 12º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. No palco, prova concreta de que dois é bom. A dupla de atores Dayane Lacerda e Rafael Lucas mostrou sintonia orgânica e cumplicidade intensa.
Já atrás da coxia, o dito popular tem a validade questionada. Um seria pouco, indubitavelmente; entretanto, três seria demais? Se o que está em questão é o trio de diretoras Mariana Blanco, Marina Arthuzzi e Marina Viana, três parece ser a quantidade certa. Não é a primeira vez em que a trinca de ases – ou, nesse caso, trinca de “emes” – assina em conjunto a direção de um espetáculo. Em “Sobre dinossauros, galinhas e dragões”, o comando foi compartilhado, mas na forma de Primeira Campainha – segundo definição de Arthuzzi, “um grupo, um coletivo, uma família, uma casa, uma banda, um trio, um forró”, criado há cerca de um ano e meio, em Belo Horizonte.
No Cenas Curtas, as integrantes da Primeira Campainha não carregam o nome do coletivo de múltiplos sentidos. “É engraçado, vem a patota junta e o povo já quer dar um nome. A gente não está aqui como Primeira Campainha. Aqui a gente está como Marina, Marina e Mariana”, explica Marina, a Arthuzzi. Independentemente disso, fato é que a direção a três parece mais uma vez ter funcionado. A parceria surgiu em 2007, quando Marina Viana foi convidada pelas duas outras para dirigir o trabalho de conclusão do curso de Artes Cênicas, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A experiência daria origem à peça “Elizabeth está atrasada”, que mescla influências múltiplas e Role-playing game (RPG).
Perdão novamente aos que combatem frases e ideias batidas, aqui em nome de Mariana Blanco. Para a artista, não há como explicar a parceria entre ela e as Marinas sem ser de uma forma clichê. “Foi um grande encontro de afinidades pessoais e estéticas. Foi uma escolha muito feliz que acabou se misturando em outros aspectos da nossa vida”, conta. Essa sociedade, antes mesmo de evoluir artisticamente e ser firmada pelo surgimento de um grupo teatral, deu origem a um novo lar. Desde 2008, além de partilharem funções cênicas, Marinas e Mariana dividem contas e se revezam em tarefas domésticas. “A gente mora junto e isso influi muito no nosso modus operandi. Enquanto lavamos louça, estamos pensando em peças, em texto, tendo ideias. Por isso, é muito conjunta a nossa criação”, revela Marina, agora a Viana.
Quem está de fora, vê nisso tudo uma conotação, de certa forma, hippie, declara e ratifica Mariana Blanco. A casa das três é uma espécie de produtora, de onde são alavancados projetos delas e também de amigos. Manter o bom humor – marca forte no trabalho da Primeira Campainha e também notado na cena “Sobre-viventes” – tem sido para Blanco o desafio para dar continuidade a essa intensa convivência. E, para conduzir a experiência da melhor forma, Marinas e Mariana tentam se dividir nas funções do dia-a-dia e se articulam e se multiplicam no teatro: produzindo, iluminando, atuando, dirigindo e escrevendo.
Apesar de as funções serem executadas em conjunto, cada uma das artistas acaba assumindo subfunções. No quesito comando de uma peça, Marina Artuzzi toma mais à frente da direção propriamente dita. Talvez seja simplesmente por uma questão de personalidade. “Eu costumo ser sempre a mais “mandona”. Alguém tem que tomar uma decisão. Fica uma empurrando pra outra e eu acabo decidindo. Às vezes, eu erro, muito de vez em quando”, brinca Arthuzzi. E não foi dessa vez, na direção de Sobre-viventes, que Marina Arthuzi e suas companheiras erraram. Agora, que me desculpem os amantes do bom e velho ditado; três definitivamente não é demais.

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