Crítica do Festival
de Três Rios/ Rio de Janeiro - 2012
Por Dinah Cesare e Mariana
Barcelos
Os sobre-viventes é inspirado no conto homônimo de Caio Fernando Abreu que
trata em sua poética de configurar um olhar de balanço afetivo sobre a geração
da contracultura. O título com hífen sugere a ação de se falar sobre algo, ou
de se colocar sobre alguma coisa (os viventes) para poder ver melhor, mas não
descortinar um panorama e sim fazer um ultrapassamento. O conto é um elemento
originário para o desenvolvimento de uma dramaturgia autoral da cena que
imbrica em sua materialidade os elementos da linguagem teatral, realizando uma
poética própria. Nesta investida ainda entraram outras inspirações,
principalmente, a de Ana Cristina Cesar. Mas para além de uma relação com os
esses autores, Dayane Lacerda e Rafael Lucas, elaboraram um trabalho
fundamentado nas experiências realizadas na sala de ensaio em que os dois
travaram um conhecimento mútuo. O autoconhecimento veio alicerçado pelo retorno
que o outro dá. Talvez, esta investida seja mesmo um procedimento de arte que
vaza para a vida, ou seja, menos do que procurar por essências abstratas do
ser, a relação é o que nos forma. Assim, o texto escrito pela dupla foi se
construindo aos poucos, juntamente com o aparecimento dos objetos –
necessidades materiais para nossa existência em confronto com a natureza.
Podemos pensar que as relações são construções, assim como o trabalho de arte.
O trio de diretoras formado por Maria Viana, Marina Arthuzzi e Mariana Blanco
consegue dar contorno para as referências literárias, poéticas, musicais e os
materiais pessoais dos atores sem cair em atitudes e imagens psicologizantes.
A composição de Dayane Lacerda implica na repercussão de nossos modos de
lidar com o corpo, com a amizade e o amor. A atriz não incorre em maneirismos
de representação e formula um presente complexo, cheio de referências afetivas,
nos remete a imagem de “uma Ângela Rô Rô”.
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